Tão Longe e tão perto: o paradoxo da valorização profissional de professores em Várzea Grande

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A educação desempenha papel estratégico no amplo processo de desenvolvimento municipal. Além de ampliar horizontes do pensamento e criatividade, os processos educativos formais (realizados nos espaços escolares), possibilitam aos seres humanos aprender cultura, tradições, costumes e anseios sociais – dos mais diversos.

Várzea Grande precisa desse potencial, seu avanço está ligado à valorizando do esforço individual que cada profissional docente realiza diariamente – principalmente em tempos de pandemia.

Recorrentemente escuta-se discursos sobre valorização profissional de professores(as).Nos espaços públicos municipais, em qualquer situação de socialização, é possível verificar apontamentos de ações a serem realizadas para valorizar trabalhadores docentes. No bojo dessa totalidade, recorta-se o seguinte questionamento: que valorização profissional de professoras(es) é essa?

De modo rápido e objetivo (indo além do debate superficial) a valorização profissional perpassa duas dimensões diferentes e relacionadas entre si – uma não depende exclusivamente da outra, mas se influenciam mutuamente. Uma dessas dimensões é material, e a outra, imaterial. A compreensão da relação entre elas, é fundamental para qualquer profissional que atue direta ou indiretamente com educação.

A dimensão material, se relaciona as condições concretas que professoras(es) necessitam para produzirem suas próprias vidas: espaço adequado para construir capital intelectual, acesso a livros, tecnologias, condições de trabalho que não sejam degradantes, salários dignos e oportunidades de melhorias em suas formações, seja por programas de pós-graduações, ofertadas em Instituições de Ensino Superior (IES), ou por projetos de formação continuada propostas por políticas públicas.

A outra dimensão, que acontece concomitantemente com a material, mas não depende exclusivamente dela, é a dimensão imaterial, pois se vincula aos sentimentos e emoções individuais (em certos pontos abstratos). É relativa ao “acreditar” da(o) professora(or), encontrar sua felicidade no “ser e se fazer” da educadora ou educador.

A dimensão material é objetiva, podendo ser quantificada e alcançada por políticas públicas estratégicas que a privilegiem. A sua existência depende de vontade política, subordinada a pressão social; daí a importância da luta dos movimentos educacionais na conquista, efetivação e implementação de direitos que abarcam essa dimensão em sua plenitude. A participação nos conselhos e secretarias de educação municipal e defesa da gestão democrática, aqui também se inserem.

A dimensão imaterial, por sua vez, é subjetiva por excelência, dependendo da autorreflexão, autocrítica e autoanálise: voltar-se a si, compreender seu papel no contexto em que está inserido; é a construção da “fé” que pessoas atribuem naquilo que fazem, é entender que seres humanos transformam e se transformam no coletivo em que vivem. A centelha de esperança que move professoras e professores a enfrentarem as dificuldades materiais existentes.

A dimensão imaterial não depende, exclusivamente, da material. No entanto, ambas se relacionam e se contrapõem o tempo todo; se intercalam em relações contraditórias, são responsáveis pela construção histórica do “ser e se fazer” de educadoras e educadores. Logo, essa relação é essencial para compreensão da valorização profissional do professor em sua totalidade, aspecto que avança de acordo com as lutas individuais e coletivas ocorridas no decorrer da história.

Valorização da(o) professora(or) é antes de tudo um paradoxo: ao mesmo tempo em que a dimensão material parece estar tão longe (tantas dificuldades encontrados para sua conquista), a imaterial é bem próxima, pois é uma internalização do sujeito, sendo seu “ser” marcado por complexas e sofisticadas relações entre indivíduo e sociedade que perpassaram o transcorrer da história.

Jalme Santana de Figueiredo Junior

Esse texto foi readaptado de outro produzido pelo mesmo autor e postado em redes sociais no ano de 2012 através do Linkedin e Facebook.
Jalme Júnior, mestre em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Professor de Geografia na rede estadual do Mato Grosso, atualmente leciona na E.E Profª Nadir de Oliveira em Várzea Grande, onde coordena o Grupo de Estudo Geografia, Política e Sociedade (GEGPS).

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