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A perfeição é irresistível, para mim, para você e para o mundo. A corrida de quem é melhor, de quem é mais amado é constantemente buscado para que sejamos socialmente aceitos.
A perfeição se estendeu da vida profissional para a pessoal. Como profissionais temos que ser produtivos o tempo inteiro, nunca podemos cansar, ficar doente, ou até mesmo descansar. Até durante as férias as pessoas continuam a trabalhar. E são exaltadas por conseguir conciliar a vida profissional e pessoal, mas é pura ilusão, uma hora até o que se gosta de fazer não fará mais sentido. O esgotamento emocional e a perda de identidade baterão na porta e como nunca se pára para ser você mesmo, independente de erros ou acertos, será mais difícil de se reencontrar.
Mais do que nunca, vemos pessoas que necessitam estar perfeitas em 100% do seu dia, sem cometer uma falha, porque é mais fácil não ser criticado do que aceitar que somos falhos e essas falhas podem não agradar alguém, e está tudo bem, mas são essas imperfeições que te tornam perfeito. Entretanto, a busca por essa tal “perfeição” não nos deixa enxergar as nossas particularidades. O medo da rejeição não nos deixa mostrar ao mundo a nossa originalidade, e o perfeito acaba perdendo a humanidade.
Viramos uma máquina, um robô, falando as mesmas frases para que ninguém interprete errado determinada fala, deixando de se conectar com pessoas e apenas tentando se desviar da sua humanidade. Não existe qualidade de vida quando negamos a nossa humanidade. Viver como um executor de tarefas é uma agressão à vida.
Quando só focamos em ser a perfeição em pessoa, também exigimos isso do próximo, transformando-se em alguém egocêntrico, inflexível, incomunicável, onde só a sua opinião importa, inalcançáveis, sentindo-se superior e inferiorizando o outro.
Há duas variantes da pessoa que busca pela perfeição:
O todo poderoso
Aquele que se acha por estar dentro dos padrões da perfeição.
Tudo o que ele faz é “correto”, somente as suas ideias, dicas, falas são válidas, quando alguém tenta dizer algo é sempre interrompido com algum comentário sarcástico. Normalmente essa pessoa se coloca em um pedestal,
e quando contrariado não consegue esconder sua arrogância, afinal ele se considera perfeito.
o outro extremo é:
O melancólico
Inferioriza seus desejos, suas qualidades, sua identidade porque não suporta não ser igual ao fulano.
Normalmente essa pessoa se fere por exigir demais de si mesmo então começa a exigir dos outros, sendo uma pessoa crítica e sem tato com os sentimentos de quem recebe a crítica.
Essa pessoa não consegue lidar com a imperfeição, sempre reclama de tudo e nunca é grato pelo que tem no agora.
Você se encontrou em algum dos dois?
É um ato corajoso ser imperfeito, aceitar e compreender o seu eu, aguentar as pressões de ser diferente.
É grotesco como estamos o tempo todo sendo bombardeados pela padronização da personalidade, do corpo, dos sonhos.
Exemplo: Para as empresas você precisa ser águia, gato, cachorro, tubarão ou lobo. Para o corpo você precisa viver de dietas e na academia. Para os sonhos, somente aquele que dá dinheiro. Ou você se encaixa no estereótipo de perfeição ou você não será considerado integrante e valorizado.
Exemplar é o preconceito com pessoas deficientes, elas não são valorizadas, estereotipam como incapazes, os violam com olhares de estranheza e comentários indecentes fazendo com que não se sintam à margem da sociedade e precisam buscar essa falsa perfeição. E nessa busca pela perfeição validam a mentira. Não contam sobre as suas dificuldades, não se sensibilizam com a dor do próximo, não conseguem assumir as suas imperfeições.
É importante sim revelar as nossas fraquezas, vulnerabilidades e descontentamentos. Só dessa forma mudaremos as visões que agridem o diferente. Assumir as fraquezas, ficar vulnerável às críticas para aprender e moldar uma nova sociedade, entretanto, ainda é necessário resistir à pressão — sua e dos outros. Tenha coragem para ir contra o que não concorda, e as ideias preconcebidas do mundo, tenha coragem de enfrentar os preconceitos consigo mesmo e com os outros. Você não precisa estar sempre certo. Você precisa ser livre para que os que ainda estão aprisionados sejam inspirados a
se libertarem. Assumir a imperfeição é ser corajoso para impor ao mundo a realidade do ser humano.
Continuar alimentando a perfeição é silenciar sentimentos, emoções, ideias, criatividades, inovações. Caso as pessoas não deem um passo à consciência de que a imperfeição é valiosa, continuarão adquirindo dificuldades psicológicas e deixando de viver. Se tornando seres chatos e transformando a vida em algo entediante.
A autoritariedade da perfeição corrói os relacionamentos, afinal se um está 100% certo, para o outro sobra zero. Que tipo de relação existe nessa matemática? Nenhuma. A vida pessoal passa a ser um caminho de via única, seja com esposa, filhos, marido, pais, irmãos etc.
Não pense que toda essa carga de perfeição não afetará seu trabalho, sua vida. Ela impede realizações pessoais, que desenvolva uma saúde mental equilibrada e a sua existência como um ser único.
Portanto, reveja se realmente, a perfeição tem que ser o objetivo principal. Crie uma linha do tempo de tudo o que deixou de viver para continuar nesse papel que fere a sua identidade e mude a partir do momento que refletir sobre quem você é e o que está sendo. Quando não sabemos quem somos, qual a nossa identidade, somos facilmente negligenciados e permitimos que a vida e as pessoas nos pisoteiam.
Seja corajoso e invista em você e na sua autenticidade, um ser único é verdadeiramente amado, não precisa de máscaras e nem se esconder atrás de uma realidade que não lhe pertence.
“Precisamos que as pessoas sejam mais corajosas , e precisamos de uma cultura que permita a coragem.” Brené Brown.