Com a safra de cana do Centro-Sul chegando ao final, praticamente antecipando em dois meses as operações das usinas, os cinco meses sem produção, até abril, levarão a cadeia a um nível bastante baixo de etanol hidratado para atravessar o período.
E os preços mais altos agora são estratégia definitiva de controle do abastecimento por parte das indústrias, independente de fatores clássicos como demanda e preços da dupla petróleo–gasolina.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) não fala em ponto crítico, inclusive apontando queda de participação do hidratado (28% para 20%) como fator de equilíbrio, mas não deixa de notar, em observação para o Money Times, que o setor conta com os 250 milhões de litros mensais de biocombustível de milho, além de importações, para compensarem a oferta.
Sem se expressar em volume de estoque, a entidade calcula que em 1º de abril, início da temporada 22/23, o nível de estoque de hidratado nas empresas processadoras corresponderá a 18 dias de consumo do mês.
Mas, para chegar até lá, o mercado estará carregando apenas 1,3 bilhão de litros do carburante para uso direto nos automóveis, a contar deste mês de outubro, o que corresponde a aproximadamente um mês de consumo, atualmente. Esse renovável sofre seguidas quedas de produção, ao contrário do anidro.
A conta é feita por Martinho Ono, CEO da SCA Trading, tendo em vista os pouco mais de 50 milhões de toneladas de cana que restam para conclusão da safra, esperada em torno de 530 a 540 milhões/t. Exponencialmente prejudicada pelas secas e geadas, deverá fechar em quebra de 60 a 70 milhões/t a menos de matéria-prima.
“Sim, a demanda vai ter que ser controlada via preço e é o que a gente tem visto desde julho, com a paridade [frente a gasolina] se mantendo entre 75% e 80%”, diz o analista e trader.
Na última semana, por exemplo, o etanol vendido às distribuidoras disparou 2,64%, segundo o Cepea, reforçando semanas seguidas de elevações, com pouco intervalos de recuos marginais, sem a correspondência do consumo, como informou a Unica (sic).
Para outra trading, a Triex, o cenário também é de consenso. “Mesmo considerando o etanol de milho, estamos com oferta bem reduzida”, pontua Paulo Strini, trader da casa, para quem “a oferta não atinge 1,350 bilhão de litros mês”.
Etanol mais caro, portanto, será a chave para a travessia mais tranquila de um dos períodos mais desafiadores para o setor sucroenergético brasileiro.