O ciclista português Ivo Oliveira revelou hoje que a equipa o quer na Volta a França, enquanto Rui Costa aponta baterias aos Jogos Olímpicos e Rui Oliveira às clássicas, a caminho da Volta a Itália.
O trio português da UAE Emirates revelou hoje os planos para o ano 2021, numa conferência de imprensa telemática a partir do Dubai, sede da equipa do esloveno Tadej Pogacar, vencedor do Tour em 2020.
No dia em que a equipa confirmou a presença do jovem ‘prodígio’ na ‘Grande Boucle’ para defender o título, Ivo Oliveira explicou que o calendário de 2021 arrancará em 14 de fevereiro, com a Clássica de Almería, em Espanha, antes da Volta ao Algarve, para já marcada para de 17 a 21 desse mês.
“Depois, várias clássicas na Bélgica, o Tirreno-Adriático, mais clássicas belgas e as Ardenas, a Amstel Gold Race, a Volta à Romandia, o Critério do Dauphiné, um estágio de altitude e o Tour [entre junho e julho]. É o que a equipa quer que eu faça. Depois da grande Volta que fiz, pensam que sou um ciclista capaz de ajudar, porque temos só um líder, que é o Tadej Pogacar”, explicou.
Ivo Oliveira, de 24 anos, referia-se à participação na Volta a Espanha de 2020, que encerrou esse ano velocipédico, e na qual este e o irmão, Rui Oliveira, participaram à última hora, após estarem de reserva.
Nessa prova, em que Rui Costa esteve perto de vencer uma etapa por duas vezes, ajudaram os líderes da geral mas também a lançar os ‘sprints’, com Ivo a conseguir preparar uma vitória do belga Jasper Philipsen.
Esse momento, assim como a vitória no campeonato nacional de contrarrelógio, para ostentar “as cores da bandeira” na camisola, são os pontos altos do último ano, na estrada, após também ter sido campeão da Europa de perseguição individual, na pista.
Já Rui Costa, que admitiu que a temporada está a começar “mais tarde em termos de preparação” após a de 2020, marcada pela pandemia de covid-19, também ter acabado muito tarde, já em novembro com a Volta a Espanha, já encontra “boa condição” e treinos “a correr perfeitamente bem”, aproveitando “o bom clima em Abu Dhabi e junto à equipa”.
“Tudo indica que estarei na Volta à Comunidade Valenciana. Depois, segue-se a Volta ao Algarve, e depois Paris-Nice. […] Sobre grandes Voltas, o Giro posso deixar de lado, não estarei presente. O Tour ainda é uma incógnita e a Vuelta também não sei ao certo. A estratégia da equipa passa por apostar em mim nas corridas de uma semana, até mesmo nas clássicas de um dia”, referiu.
Entre as provas que mencionou, há também espaço para as clássicas das Ardenas, a Volta à Romandia ou a Volta à Suíça, mesmo que o “objetivo especial” sejam os Jogos Olímpicos Tóquio2020, adiados para 2021, com as provas marcadas para decorrerem de 24 a 28 de julho.
Por isso mesmo, “a opção do Tour talvez não seja a melhor, porque termina muito em cima” da prova na capital japonesa, onde contam “a adaptação ao clima e o ‘jet lag'”, além de ser uma prova com subidas menos indicadas ao seu perfil, tendo por isso um plano rigoroso de alimentação e preparação, para perder peso e fazer frente às dificuldades em Tóquio.
De resto, o calendário de 2021 é em muitos pontos similar ao ano anterior, no qual foi campeão nacional de fundo de novo, venceu uma etapa na Volta à Arábia Saudita e teve vários pódios e ‘top 10′ ao longo da época.
Rui Oliveira recordou, por seu lado, um 2020 que “começou muito mal”, partindo a clavícula e falhando, mais tarde, a qualificação para os Jogos Olímpicos na pista, junto ao irmão e à restante seleção masculina, mas em que recuperou e deu “um passo maior na carreira de estrada”, com a Volta a Espanha e várias clássicas.
“Este ano já estou mais confiante, tenho noção que estou capaz de estar ao lado dos melhores nas tarefas que tenho, e é para isso que me vou preparar o melhor possível. [O calendário] dependerá muito de como estará a condição no início do ano. Se estiver bem, passará por fazer o Giro [em maio], mas depende da forma com que chegar até lá, porque vou estar nas clássicas primeiro, será o primeiro foco. Se tiver bem, partirei daí para o Giro”, atirou.
Vê algumas clássicas na Bélgica como podendo “assentar bem”, sobretudo a Nokere Koerse ou a Bredene Koksijde, em março, que já corre “há três anos”, numa época em que aos ‘sprinters’ de peso da equipa, o norueguês Alexander Kristoff e o colombiano Fernando Gaviria, se junta o italiano Matteo Trentin.
Nas clássicas, fará um primeiro bloco de belgas, até ao Paris-Roubaix, ficando dependente “da fadiga”, acompanhando primeiro Kristoff e, depois, Gaviria no caso de ir à Volta a Itália, para a qual o colombiano aponta.
Se Ivo Oliveira apelida Pogacar de “o melhor ciclista do mundo”, Rui Costa admitiu a surpresa por ver o colega de equipa ganhar a Volta a França, mesmo vendo-lhe “muito potencial”.
“Demonstrou uma superioridade enorme. Não é que o [Primoz] Roglic tenha andado pouco, o Tadej é que fez um contrarrelógio do outro mundo. […] Este ano vamos ser um alvo, e quem estiver no ‘oito’ tem responsabilidades, certamente será um ‘todos por um’, a defender o título do Tadej, que é um corredor que apesar de jovem é muito calmo, muito calculista, que sabe correr”, elogiou.
Com 34 anos, Costa, campeão do mundo de fundo em 2013, falou ainda dos novos valores a aparecerem no ciclismo nacional, dos irmãos Oliveira, com quem corre e em quem vê “muito potencial”, a João Almeida (Deceuninck-QuickStep) e Ruben Guerreiro (Education First), “excelentes corredores”.
“Temos estas novas caras do ciclismo português, e ainda bem, para valorizar mais o ciclismo nacional. Ainda têm 10 anos de carreira pela frente e terão muito mais para evoluir”, sentenciou.