Todo mundo sabe que o carro-chefe da Apple é o iPhone, mas a empresa continua ano após ano (às vezes, mais de uma vez) tentando convencer potenciais consumidores de que eles serão felizes com um iPad. O novo modelo Air (quarta geração), lançado em setembro do ano passado, é uma dessas apostas.
Ele foi feito para atender quem deseja um tablet com recursos avançados, mas que não custa tanto quanto o iPad Pro, mais avançado e caro. O tamanho compacto, visual moderno com opções bem coloridas e o sensor biométrico no botão de liga/desliga, que estreia nos tablets da Apple, são as principais novidades do modelo.
Testei o aparelho por um mês e conto a seguir as minhas impressões e resultados dos testes.
Onde o iPad Air se encaixa?
A Apple possui em seu portfólio atual quatro modelos de iPad disponíveis em seu site:
- iPad Mini quinta geração (tela de 7,9 polegadas), a partir de R$ 4.799
- iPad oitava geração (tela de 10,2 polegadas), a partir de R$ 3.999
- iPad Air quarta geração ou 2020 (tela de 10,9 polegadas), a partir de R$ 6.999
- iPad Pro: o de segunda geração (tela de 11 polegadas) custa a partir de R$ 9.999; o de quarta geração (tela de 12,9 polegadas) custa a partir de R$ 12.499
Desses, os dois do meio são lançamentos mais recentes. Com base na lista acima, dá para entender onde o iPad Air 2020 se encaixa. Ele não é tão avançado e caro quanto o iPad Pro, mas tem recursos e configurações melhores do que os demais.
Visual
O iPad Air (2020) foi inspirado na linha Pro (a mais avançada da Apple) e recebeu a primeira grande mudança de design da linha. Até então, eles tinham o botão home e bastante borda na parte frontal.
A versão nova é tão parecida com o modelo mais caro que podíamos até dar o apelido de mini-iPad Pro. O que é ótimo, pois a tela de 10,9 polegadas (resolução de 2.360 x 1.640 pixels a 264 pixels por polegada) é bem distribuída, com poucas bordas ocupando a frente do aparelho.
A versão anterior do iPad Air (terceira geração) tem tela de 10,5 polegadas (resolução de 2.224 x 1.668 pixels a 264 ppp) e quase a mesma altura e largura do lançamento. O modelo de 2020 manteve um peso parecido: 458 gramas (versão wi-fi) contra 456 gramas (versão wi-fi) do modelo de 2019.
As três novas cores escolhidas para o aparelho novo são lindas. Além do padrão prateado e cinza-espacial, o iPad Air (2020) é vendido nas opções ouro rosa, azul-céu e verde (cor da versão de teste).
Outra diferença entre as gerações é que o tablet de 2020 funciona com uma entrada USB-C. Anteriormente, o iPad Air trabalhava com um conector Lightning. A mudança permite que os donos dos tablets conectem pen drive e cartões SD mais facilmente.
Na parte de trás, uma câmera simples de 12 MP. O iPad Air novo é vendido em dois formatos: com wi-fi ou compatível também com 4G
Touch ID
O botão de liga/desliga agora funciona também para abrigar o sensor biométrico. Na falta do Face ID (desbloqueio facial), o Touch ID é o recurso de segurança para desbloquear a tela e confirmar algumas ações, como downloads de aplicativos.
Ele deixa configurar a impressão digital de vários dedos, e o cadastro é parecido com o que funcionava nos iPhones mais antigos. Você posiciona o dedo escolhido e o iPad salva os padrões da sua digital.
O botão fica localizado bem no canto superior direito. Achei a localização boa. O reconhecimento da digital é bem rápido e dura alguns poucos segundos.
Desempenho, usabilidade e bateria
O iPad Air (2020) funciona com o A14 Bionic, o mesmo processador usado na linha iPhone 12, desenvolvido com tecnologia inédita de 5 nanômetros. Isso significa velocidade e fluidez em praticamente qualquer programa que rode dentro do tablet.
Segundo a Apple, o desempenho do iPad Air novo é 40% melhor e os gráficos são 30% mais rápidos do que a versão de 2019.
Durante os testes, explorei programas de realidade aumentada (como AR Dragon, estilo bichinho virtual, e o Night Sky, um planetário virtual), jogos diversos (como The Sims, Harry Potter, SimCity), serviços de streaming de música e vídeo, brinquei de editar fotos e vídeos (com programas do próprio iPad). Tudo funcionou perfeitamente sem travamentos.
Depois disso, até confirmei algo que eu já sabia. Para o meu nível de uso de um tablet, uma versão mais simples e barata do iPad estaria de bom tamanho, pois outros modelos também funcionam com ótimos processadores. Eu só teria que abrir mão da excelente proporção de tela do Air.
Mas, só para contextualizar, eu tenho dificuldades em usar tablets para atividades do trabalho sem que eles tenham um teclado físico para me ajudar. Acessar emails, separar imagens de review e fazer pesquisas na internet são coisas práticas de fazer no iPad. Mas não consigo escrever matérias com tanta velocidade quanto faço em um computador/notebook. Não consegui me acostumar com a tela de 10,9 polegadas dividida entre o programa de texto e o teclado virtual. Dá para fazer, mas acho mais cansativo.
Em testes anteriores, eu cheguei a usar um modelo de iPad com uma capa-teclado e a experiência foi ótima. O Apple Pencil (caneta sensível ao toque da tela para escrever, desenhar, entre outras funções) também dá uma boa ajuda na usabilidade. A parte ruim é o investimento necessário para ter o acessório (falo mais sobre isso a seguir).
Apesar de ter uma câmera frontal e uma traseira, tirar fotos com um tablet não é uma tarefa nada discreta. Por isso o uso de aparelhos assim para fotografia não é lá muito comum. Mas as fotos tiradas com o iPad Air ficam boas.
De qualquer forma, a câmera frontal me ajudou com chamadas de vídeo. A experiência foi mais próxima do uso de um notebook do que a de usar um celular para isso.
A Apple promete que a bateria do iPad Air (2020) dura até “até 10 horas para navegar na internet via wi-fi ou assistir a vídeos”. Nos dias mais tranquilos de uso do tablet, pude assistir séries (entre duas e três horas ao longo do dia), navegar na internet, deixei música tocando e joguei por alguns minutos, e a bateria durou um pouco mais do que isso — algumas vezes, ela chegava a durar 12h.
Nos testes mais intensos, o desempenho foi menor. Em um teste padrão de Tilt, deixei um vídeo online rodando direto em sequência com conexão wi-fi. A bateria estava em 100% e 4h21 depois ela chegou a 0%. O resultado foi inferior ao do iPad Pro, que no mesmo teste durou um total de 5h55.
Apenas para ilustrar, a última recarga de 100% que dei no iPad Air (2020) foi em uma segunda-feira às 20h39. No momento em que eu atualizo esse texto (na terça seguinte, às 13h30), a bateria está em 80%. Isso depois de 30 minutos de dois jogos, 1h06 minutos de YouTube e alguns programas rodando em segundo plano durante a madrugada e no decorrer da manhã (que não usei em nenhum momento).
iPadOS e acessórios
Com a atualização do sistema operacional iPadOS, o tablet ganhou widgets, que servem para exibir informações (como a temperatura do tempo) e podem ser usados como atalhos para alguns programas (calendário, mapas etc.). Você pode configurar o seu email para que ele apareça entre os itens.
O recurso Split View presente no sistema operacional do iPad foi bem útil para mim. Com ele, dá para usar dois programas ao mesmo tempo, com a tela se dividindo em duas partes. Você pode escrever um email enquanto acompanha um vídeo exibido na outra parte da tela, por exemplo.
Usei bastante a tela dividida durante buscas na internet. Em uma manhã precisei pesquisar sobre uma fonte para uma reportagem. De um lado, eu deixei os resultados da pesquisa abertos. Do outro, assisti a vídeos sobre a fonte e li informações sobre ela. Foi prático para eu ter um controle melhor dos links que eu já havia acessado.
Algo prático que também mudou com o sistema do iPad combinado ao Apple Pencil foi a parte da escrita digital, segundo a Apple. Os comandos da caneta são ainda mais precisos na hora de transformar a escrita à mão em escrita digital. O processo pode ser feito em qualquer caixa de texto e o iPad converte tudo em poucos segundos, explica a empresa.
Não pude testar o Apple Pencil para esse review, mas já usei o “lápis-caneta” em outros momentos e tive a certeza do quanto ela pode ser útil para estudantes que precisam fazer anotações várias vezes ao longo do dia. Profissionais que fazem apresentações em seus trabalhos também podem achar a caneta útil. Imagino que os ilustradores devem ficar empolgados com a precisão do dispositivo.
Falando ainda sobre os acessórios que ajudam na usabilidade, o iPad Air (2020) ganhou a compatibilidade com o Magic Keyboard, capa-teclado “profissa” da empresa (funciona só com alguns modelos do iPad) de R$ 3.199. Com o seu trackpad (funciona como o cursor da tela, fazendo as vezes do mouse), o uso do aparelho fica mais parecido com o de um notebook —com ela, acho que até fica mais fácil a transição entre um dispositivo e outro.
Pena que o teclado-capa custa bastante. Uma alternativa da própria Apple é o Smart Keyboard Folio. É um teclado mais simples e custa R$ 1.899.
E para a alegria do bolso dos donos de iPad, outras empresas comercializam capas com teclado bem mais baratas. Vale a pesquisa. Só fique de olho na qualidade do material usado.
Custo-benefício
Comparando o iPad Air de 2020 com versões passadas dele, o tablet avançou bastante. O fato de ter pegado características do iPad Pro o torna muito mais atrativo. O preço, claro, não é nada barato: a partir de R$ 6.999.
O Air novo é um aparelho que vai atender perfeitamente quem deseja usá-lo para um mix de entretenimento e algumas atividades de trabalho. Consumir vídeos, jogos, trocar emails, mensagens, montar apresentações, escrever textos, navegar na internet, redes sociais. Tudo isso é possível fazer com tranquilidade.
Também serve para algumas tarefas pesadas, como editar fotos e vídeos. Se você trabalha com isso ou é entusiasta, com certeza vai conseguir explorar ainda mais todo o potencial do aparelho.
O lado ruim é que a versão mais em conta do iPad Air (2020) só tem 64 GB de memória, o que hoje em dia já é pouco. Se você é uma pessoa que precisa armazenar bastante arquivo, não vai compensar o investimento. Nesse caso, o custo-benefício fica prejudicado.
Não acho que o Apple Pencil seja primordial para mim. Mas, depois que você usa algumas vezes, fica difícil imaginar o uso do iPad sem ele. A segunda geração do Pencil, compatível com o iPad Air (2020), custa R$ 1.599.
Se ainda tem dúvidas se um iPad pode substituir um notebook, digo que vai depender muito do seu uso. Se você usa mais o seu laptop para entretenimento e algumas rotinas do trabalho, pode ser usado no lugar tranquilamente. É um excelente aparelho, com um processador tão avançado como o de muitos computadores por aí.
Mas, para minhas atividades como jornalista, ele sozinho não substitui o computador, pois um teclado físico faz bastante falta. Compensaria manter o meu laptop para funções mais específicas do trabalho e comprar uma versão do iPad mais barata com uma capa-teclado junto. Eu o usaria muito para coisas que faço atualmente no celular, mas que ficam mais práticas e confortáveis com a tela maior do tablet.
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