O progresso transformou a cidade de Cuiabá em uma metrópole povoada de prédios. Seu ‘Jardim’ ganhou até uma ‘fonte luminosa’!.
A cidade, uma Faculdade de Direito! Lembrados de que a nossa Universidade Federal só veio bem depois. Os da antiga sente quilos de saudades daquele tempo, quando tudo era mais fácil por aqui.
As donas de casa, estas não precisavam dela sair para prover sua despensa de tudo que era necessário. Frutas, verduras, legumes, carne vermelha ou branca, farinha de mandioca, pote de barro, colher de pau.
E dá-lhe rapadura de cana de açúcar! Tudo vendido nas portas das casas, conduzido em carrinhos de madeira. O leite era distribuído em latões nas charretes, puxadas por cavalos, e vinha das chácaras da Várzea de Ana Poupina, no Porto.
A lenha que abastecia os fogões de barro, trazida por pequenas caminhonetes. Todo cuidado era tomado com os escorpiões, que vinham escondidos no meio da lenha.
Sua picada era dolorosa, produzindo imediatamente uma íngua na região da virilha. A criança atingida acabava dormindo, e com ela dormiam suas dores. A casa não tinha geladeira e ninguém comia comida dormida. Isso não!
O que não era consumido no dia, trazia o ‘simpático’ nome de ‘resto’, recolhido em um latão de banha de vinte quilos. Este, ficava na cozinha.
Era comum criar ‘porcos’ em domicílio. Quem o fazia, passava em minha casa em dias alternados. Intento era levar os ‘restos’ de comida.
Como era simples viver em Cuiabá, naquela época! Tudo era fácil. É de ressaltar a camaradagem entre os moradores. Sem limites. A violência não existia e, quando se constatava um ato criminoso, o comentário corria solto por muito tempo.
Perdemos a Cuiabá de nossa infância, trocada que foi por essa cidade truculenta, sem humanismo.
Cabe-nos a todos pagar pelo progresso. Se, de um lado, ele nos beneficia sob certos aspectos, não há dúvida de que consegue nisso embutir um preço muito elevado.
E como dói! Não só no bolso. Mais que tudo, dói na alma.
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT