A FRASE…
“Mesmo sabendo, como os socialistas dizem há anos, que o SNS estava com enormes faltas de pessoal, instalações e equipamento, não foram tomadas medidas suficientes, mal se soube o que aí vinha”
António Barreto, Público, 6 de fevereiro
A ANÁLISE…
Nota-se no Executivo algum trauma com a experiência do governo Sócrates e o seu descontrolo das contas públicas. Tal como os heroicos gauleses, apenas têm medo dum défice orçamental e que uma troika lhes caia em cima da cabeça, mesmo que o BCE compre tudo o que pode na dívida pública. E a fórmula manhosa desse controlo tem recaído sistematicamente nas cativações de investimento público e de despesa nas áreas da saúde e da educação. Ou seja, apresentam orçamentos com autorizações de despesa e executam metade. Uma narrativa para a esquerda e para a imprensa longe duma realidade com pouco escrutínio. Recordemos a análise de Joaquim Miranda Sarmento, ontem no Eco. “O investimento público aumentou face a 2019 apenas 170 M€ (100 M€ na saúde). Passou de 4,8 mil M€ para 5 mil M€. O Governo tinha autorização para 6,4 mil M€.
Refira-se que a despesa com juros desceu, face a 2019, cerca de 500 M€! Ou seja, o aumento do investimento é menos de metade da poupança com os juros.” Isto num ano de pandemia em que era necessário expandir hospitais, e realizar urgentemente os investimentos na saúde que tardam em chegar. Onde está o prometido Hospital de Todos os Santos que talvez tivesse impedido as filas de ambulâncias que envergonharam o país e enfraqueceram doentes? E os não covid que não tiveram espaço nos hospitais? E os salários miseráveis de enfermeiros que os levam a emigrar para Espanha e ganhar mais do dobro? Mas houve dinheiro para compensar as 35 horas. E os 4 mil milhões previstos para a TAP dariam, por exemplo, para construir 10 hospitais médios, num país envelhecido e por isso a necessitar cada vez mais de cuidados de saúde, muito mais do que transportar brasileiros ou americanos.
Este é o tempo das mentiras e ocultações, nas vacinas da gripe, nos planeamentos e na aposta no SNS. Segundo a Pordata, base DGO, no governo de Passos Coelho, com a troika, as despesas de saúde foram em média 5,18% do PIB. Entre 2016 e 2019, esse número foi de apenas 4,5%, depois de “passar” a página da austeridade e com uma população mais envelhecida a cada ano que passa. O escrutínio não é conhecido e os culpados são os portugueses. Pois é, parece que ainda apoiam esta forma de governar…
Este artigo de opinião integra A Mão Visível – Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.